Rainha do Congo faz visita histórica à Pedra de Xangô, monumento sagrado na Bahia: ‘Parte da minha história’
Com muita simpatia, Diambi Kabatusuila cumprimentou estudantes e admirados com beijos e abraços, reverenciou símbolo de ancestralidade e fez discurso emotivo nesta quarta-feira (13), em Salvador.
A rainha Diambi Kabatusuila, do povo Bena Tshiyamba da República Democrática do Congo, fez uma visita histórica na manhã desta quarta-feira (13) à Pedra de Xangô, monumento natural considerado sagrado pelo candomblé, localizado no bairro de Cajazeiras, em Salvador.
Com muita simpatia, Diambi Kabatusuila chegou ao local por volta das 11h30, acompanhada de integrantes da Associação Recreativa Comunitária Afoxé Filhos do Congo. Ela fez questão de cumprimentar com beijos e abraços todos os estudantes e admiradores que já esperavam no local há mais de uma hora.
Em seguida, a rainha aprendeu um pouco sobre a história da Pedra de Xangô, reverenciou o símbolo de ancestralidade e fez um discurso emocionado, em espanhol.
“É uma honra estar aqui na Bahia, um lugar que é como se fosse minha casa, minha terra. É um trabalho muito importante de reconhecer a história, porque essa também é uma parte da minha história, que não conhecia”, contou a rainha do Congo.
Diambi Kabatusuila foi coroada governante do povo Bena Tshiyamba de Bakwa Indu, da região central de Kasaï, parte do antigo Império Luba, em 31 de agosto de 2016. Ela detém o título de Diambi Mukalenga Mukaji Wa Nkashama (Rainha da Ordem do Leopardo).
Diambi Kabatusuila desembarcou em Salvador na noite de segunda-feira (11) para participar de eventos em alusão ao Novembro Negro e deve deixar a capital baiana na quinta (14). ela tem compartilhado experiências sobre o modelo educacional baseado na filosofia africana e na cultura congolesa, promovendo intercâmbio cultural e de experiências.
A rota afro Congo-Bahia também é discutida pela rainha, que marcou encontros com gestores de instituições, lideranças religiosas de matriz africana e representantes institucionais e culturais afro-brasileiros.
Na visita ao monumento, ao g1, a rainha também ressaltou a importância de sentir a energia da Pedra de Xangô e da representatividade dela como sinônimo de igualdade.
“Essa pedra é um símbolo de luta que nossos antepassados tiveram para melhorar de condições e ganhar liberdade de culto religioso e de aparência. Temos que continuar a lutar para que todos tenham liberdade”, pediu.
Pedra de Xangô
Tombada pela prefeitura em maio de 2017, através da Fundação Gregório de Matos (FGM), a Pedra de Xangô é protegida pela Lei de Preservação do Patrimônio Cultural do Município (8.550/2014). É o primeiro parque do Brasil com nome de orixá, divindade do candomblé e da umbanda.
O parque fica instalado na Avenida Assis Valente, em uma área de Mata Atlântica que abrigou durante 20 anos (1743 e 1763), o Quilombo Buraco do Tatu.
O espaço é ocupado por muitos devotos do candomblé, que colocam oferendas sagradas – pela existência da Pedra de Xangô, reconhecida pelo povo de santo como Altar de Xangô. Outro motivo são os elementos fundamentais para o ritual da religião, como água e folhas, no entorno do monumento.
Em 2021, a Pedra de Xangô sediou a primeira cerimônia de casamento religioso afro-brasileiro de que se tem notícia no local. O noivo Stefano Diego Borges “Odesì”, ou seja, vodunsi iniciado para o Vodun Odé, e a noiva Sinay Almeida, Gayaku, mãe de santo do Terreiro Vodun Kwe Tò Zò de nação Jeje, receberam as bênçãos por meio das mãos de Tata Mutá Imê, sacerdote de nação Angola.
No entanto, a Pedra de de Xangô não é só palco de histórias boas. Em 2018, por exemplo, o monumento sagrado foi vandalizado e 100 kg de sal foram jogados no local.
A ação foi considerada como um ato de intolerância religiosa, já que o sal é um símbolo de purificação, e o fato de ter sido jogado na pedra dá a entender que o local cultuado pelo Candomblé estivesse impuro.
Visita real na Bahia
Durante a estadia, a rainha do Congo participou de eventos no Colégio Edvaldo Brandão Correia, na região das Cajazeiras; na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), no Cabula; e no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), no bairro do Barbalho.